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 12 Transportes ancestrais
A história do povoamento da Madeira está intimamente associada aos modos de transporte utilizados, muitos deles de forma criativa, para superar a orografia acidentada que caracteriza a ilha.
O ponto de partida para a extensão da rede viária básica do Funchal a toda a ilha foi a conclusão da Ponte do Ribeiro Seco em 1849, mas esta expansão foi sempre paulatina e apenas na década de 1920 é que se começou a constituir as primeiras empresas de transportes coletivos de passageiros e de carga para servir a população do Funchal e zonas periféricas.
Em 1904 circulou pela primeira vez um automóvel na Madeira, mas este foi nos 70 anos seguintes, até à transição democrática de 1974, rotulado como um artigo de luxo. De facto, antes da introdução e massificação
dos automóveis, as infraestruturas eram pobres, pelo que circular na Madeira revelava-se uma tarefa desafiante, apenas existindo uma rede de caminhos empedrados que atravessava a ilha.
Em muitas situações, o declive era tão acentuado que esses caminhos se assemelhavam a escadas, pelo que andar a pé era o meio de transporte mais popular e o homem madeirense optava por transportar ao ombro
ou à cabeça as suas cargas. Entre as classes mais abastadas, a circulação a cavalo ou mesmo numa elegante e exótica rede eram meios de transporte frequentes. Devidamente adaptado às circunstâncias locais, o palanquim da Madeira (inspirado num modelo oriental em voga em países como
a Índia) permitia que uma pessoa com capital económico ou doente repousasse com as pernas estendidas num assento almofadado enquanto era transportada.
As mercadorias, sobretudo vinho, banana e vimes, eram transportadas por corças, que se assemelhavam a carros sem rodas, pois moviam-se a tração animal, puxadas por bois. Estas foram utilizadas até à década de 1970.
Os carros de cestos foram introduzidos em meados do século XIX para efetuar o trajeto entre a zona romântica Monte, onde se concentram hotéis e quintas de alta sociedade, e o centro do Funchal. Ainda hoje é possível utilizá-los e a sua tipicidade deriva de assentarem num carro
de cesto de vime, montado sobre traves de madeira, conduzido por dois “carreiros” que empurram e guiam o carro de cesto pela colina abaixo, usando as botas como travões. O famoso escritor Norte-Americano Ernest Hemingway considerou a descida do Monte em carro de cesto como tendo sido uma das mais fortes emoções da sua vida.
       























































































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